Enquadramento

De acordo com dados da Direção-Geral de Estatísticas da educação e Ciência, no ano letivo de 2020-21 encontram-se inscritos 289.469 estudantes no 1º e 2º ciclos do Ensino Superior público. A dimensão deste número releva a importância do ensino superior nas vidas dos jovens portugueses. A taxa bruta de escolarização, que corresponde à percentagem de estudantes matriculados nos diferentes níveis de ensino em relação à população em idade habitual de frequência desses ciclos, era, em 2014, de 52%.

A entrada no ensino superior é um momento de mudança marcante na biografia de qualquer estudante, que não acontece exclusivamente ao nível do percurso escolar e laboral, mas que abrange outras dimensões da vida. As instituições de ensino superior constituem um contexto que permite a entrada em contacto com novas realidades sociais e culturais, suscetíveis de reconfigurar as suas relações interpessoais, quadros simbólicos de referência e hábitos quotidianos nos mais variados domínios.

Acresce que a transição para o ensino superior é, com frequência, concomitante a outros processos de autonomização que possibilitam aos jovens uma margem mais alargada de ação e decisão sobre si próprios, assim como uma maior capacidade de gestão e negociação do seu tempo, práticas quotidianas, corpo e saúde, recursos materiais e redes sociais. Condições de autonomização que aumentam quando a entrada no ensino superior exige a deslocação permanente face à sua residência habitual, levando a uma emancipação relativamente ao controlo mais próximo da sua família de origem.

Assim, novas práticas e hábitos de consumo podem tomar lugar ou sair reforçados no estilo de vida do estudante universitário, por via da integração em novos círculos sociais, da adoção de novos valores, na procura de processos adaptativos de compensação dos níveis de tensão experienciada e/ou de ampliação da liberdade de ação. Estas condições estruturais poderão configurar novas vivências da condição de estudante do ensino superior, mais competitivas e stressantes, considerando a incerteza futura, ou mais hedonistas e orientadas para o presente. Certo é que ambas as atitudes são passíveis de se consubstanciar em determinados “comportamentos de risco”, que podem comprometer a saúde presente e/ou futura.